Crítica | O que foi o multiplayer de Call of Duty: Black Ops 6?
- Lucas Venancio

- há 5 dias
- 7 min de leitura
Agradecemos imensamente à Theogames, Activision e Call of Duty Brasil pelo envio do código do jogo completo e passes de batalha ao longo das temporadas do Black Ops 6. Vale destacar que jogamos o multiplayer inteiro no PlayStation 5 no modo de 120hz.
Essa crítica é de um jornalista cuja franquia favorita na indústria dos games é Call of Duty, e que ainda se considera um tryhard no multiplayer. Sou jogador desde 2008, começando em Call of Duty: World at War, título que pertence à saga Black Ops, desenvolvida pela Treyarch meu estúdio favorito. Continuo por aqui ano após ano, alguns jogando mais, outros menos. Porém, Black Ops 6 (2024) foi um dos títulos que mais joguei e tive vontade de explorar para produzir conteúdo. Foram mais de 8 dias e 4 horas de jogatina no modo tradicional e 15 horas na Rankeada.

Cheguei ao level 500 do Mestre de Prestígio (com ajuda dos modos Zombies e Warzone e claro, do 2XP), completei todos os passes de batalha das seis temporadas e participei de todos os eventos que formaram o ciclo de vida do game. Então, tenho um pouco de propriedade para analisar o multiplayer de BO6. E mesmo sendo um dos que mais joguei, definitivamente não está entre os meus Call of Duty favoritos nesse quesito.

A fórmula COD e o desequilíbrio
A franquia da Activision sempre despertou uma forte dopamina e noradrenalina nos jogadores, muito pelo feeling de gameplay o melhor do mercado, sendo intuitiva e casual, sempre atraindo novos públicos. E deu certo, já que Call of Duty está constantemente entre os jogos mais vendidos de cada ano em todas as plataformas. Essa força vem de diversos fatores aliados: fluidez, mecânicas, campanha, modo cooperativo e Zombies.
O lado competitivo do jogador fiel de COD nunca foi em grupo, e sim, na maioria das vezes, individualizado buscando manter o KD alto (baixas em relação a mortes) e a incessante corrida por níveis, Prestígios e camuflagens. Desde 2020, com Warzone, isso se tornou símbolo do grind, devolvendo a franquia ao mainstream.
O grind e a freneticidade da omnimovimentação
Em Black Ops 6, essa busca pelo grind atingiu outro patamar, já que todas as mecânicas foram voltadas para isso. A velocidade do jogo ficou simplesmente “insana” literalmente. Com a implementação da Omnimovimentação, que permite aos jogadores se moverem rapidamente em todas as direções, o game se transformou em uma freneticidade ainda maior, aliada à fluidez já consagrada da franquia. O slide cancel foi retirado, mas ainda havia formas de alcançar uma movimentação avançada para quem se aprofundasse no jogo.
O jogo acabou se tornando um verdadeiro simulador de “arrasta-bundas” divertido, mas incômodo ao mesmo tempo, e que não faz bem para o equilíbrio do gameplay. A Treyarch tentou reduzir a velocidade, mas quase nunca fez diferença significativa. Somente no Warzone, com a chegada de Verdansk, isso se tornou um pouco mais contido.
A Omnimovement, ao meu ver, deveria ser mantida em definitivo na franquia. É extremamente satisfatória de usar e aumenta ainda mais a sensação de fluidez pela qual Call of Duty sempre foi conhecido contanto que seja balanceada da maneira correta.
Ainda nesse aspecto, tivemos a adição da vantagem Destreza, que permitia apontar a arma ao pular e deslizar com mais rapidez, tornando-se praticamente obrigatória para quem queria tirar o máximo proveito do jogo.
Mapas pequenos e o caos do SBMM
Agora, a cereja do bolo para tornar o multiplayer de BO6 “caótico” foram os mapas. A grande maioria era de pequeno a médio porte, moldando toda a jogatina em um ciclo de matar e morrer o tempo todo. Somado ao SBMM (partidas por nível de habilidade), isso deixou as partidas com um skill gap ridiculamente alto. Ou seja, era preciso dar a vida em quase todas as partidas para conseguir algo realmente acima da média. Pareciam partidas da Call of Duty League.
Não que seja ruim ter um desafio maior, porém o SBMM fez as pessoas se tornarem melhores jogadores e ao mesmo tempo destruiu a casualidade que fez a franquia famosa. A adição do Coringa “Atirador”, que permitia usar oito acessórios por arma, também contribuiu para isso. E até eu, que sou acima da média, acho uma toxicidade tremenda para a comunidade. Felizmente, isso deve melhorar com a diminuição do SBMM e mapas mais amplos em Black Ops 7.
O efeito Reels/TikTok e a dopamina instantânea
Black Ops 6 se tornou um jogo de Reels, Shorts e TikTok. Muito disso vem do próprio Warzone, já que o layout do armeiro e suas classes permitem sempre ter granadas letais e táticas equipadas, causando um spawn excessivo a todo momento. O jogo virou uma experiência de grind constante: subir rápido, matar rápido, morrer rápido, com mapas pequenos e movimentação psicodélica.
Aliado a modos como Enfrentamento nos mapas menores, No Máximo e Sequência Mortal (esse último, apesar de divertido, tem uma aceleração absurda), a dopamina vai literalmente até o espaço. Isso começou em Modern Warfare (2019), com os mapas Shipment (um clássico) e Shoot House, que rapidamente se popularizaram não por serem amados, mas porque eram eficientes para o grind e para upar armamentos para o Warzone.
Os modos 2v2 eram uma boa ideia, mas ao migrarem para 6v6, tudo virou caos em Black Ops 6, com mapas em escala reduzida. A Treyarch só fez isso porque a comunidade se moldou assim. Hoje percebemos que nós mesmos fomos os causadores disso, especialmente os jogadores médios que vieram com o Warzone gratuito e entraram na franquia. E agora, curiosamente, estão voltando atrás por causa da concorrência.
Prestígio e nostalgia Black Ops
O grind em si é o menor dos problemas ter infinitas possibilidades de desbloqueio é recompensador, tanto pelo engajamento quanto pelo retorno financeiro. A volta do sistema de Prestígio foi uma das melhores decisões, e aqui eles brilharam ao colocar skins e projetos nostálgicos relacionados à saga Black Ops desde World at War. Foi um dos grandes motivos que me motivaram a chegar ao Mestre de Prestígio. O level 1000, inclusive, liberava o operador Samuels de Black Ops 7, já remetendo à sequência direta de Black Ops 2. Também era possível mudar os ícones do Mestre de Prestígio com emblemas de CODs antigos, como no Black Ops Cold War.
Armas, metas e desequilíbrios
Nos armamentos, tivemos discrepâncias grandes, já que o meta sempre existiu o “meta da vez” empurrava os jogadores para as mesmas armas, vantagens e equipamentos, limitando a variedade de gameplay. Se você não seguisse o meta, ficava para trás.
Apesar disso, me diverti com as armas de Black Ops 6.
Um destaque pessoal foi o Kit Espião, que transformava você em um operador inimigo com ícone aliado, enganando os adversários e ainda havia como contrapor usando a vantagem Vigilante. Essa relação de ação e contra-ação é um dos pontos que mais gosto na franquia. Outro ponto positivo, que aprecio desde Cold War, é a adição de novas séries de pontuação ao longo das temporadas algo que mantém o jogo vivo e reforça a essência da série.
Temporadas, passes e eventos repetitivos
Falando das temporadas, infelizmente ficaram abaixo das expectativas. O jogo em si não ajudava muito, mas a continuidade da campanha entre elas foi interessante, algo que vem desde Modern Warfare (2019). No entanto, houve um excesso de mapas pequenos e poucos conteúdos realmente marcantes. Completei todos os eventos, mas apenas dois se destacaram: as parcerias com Round 6 (Netflix) e as Tartarugas Ninja, que trouxeram modos criativos e divertidos como o “Batatinha Frita 1, 2, 3”, que fugia da temática mas era extremamente divertido.
De resto, os eventos se resumiam a liberar cosméticos e vales de XP, geralmente terminando com uma variante ou arma nova. Os passes premium, opcionais, também repetiam o mesmo formato, sem inovações para manter o público engajado.
A adição de novos acessórios e conversores de armas foi uma ótima ideia herdada de MW3 (2023), considerado por muitos uma “DLC” de MW2 (2022), mas que teve um multiplayer divertido (tirando o SBMM), eventos constantes e atualizações interessantes algo que deve retornar em Black Ops 7. Já aqui ficou devendo nesse aspecto.
Os passes de batalha ficaram na média questão subjetiva, já que cosméticos agradam uns e desagradam outros. Houve variedade, e o BlackCell foi bem explorado.
Skins viajadas que passaram do ponto
Mas o que realmente prejudicou a reputação de Black Ops 6 algo que começou em BO4 e seguiu por Cold War, Vanguard, MW2 e MW3 foi a loja do jogo. Cada pacote, com suas armas de obra-prima e operadores caricatos, deixou o título ainda mais exagerado ao lado dos eventos temáticos. Literalmente transformou o jogo em um Fortnite o que, pessoalmente, não me incomoda em partes, já que gosto de algumas skins desde BO4. Mas dessa vez, extrapolaram. Muito se questionava: o jogo tinha pouco conteúdo, mas a loja recebia novos pacotes toda semana.
Modos arcade, Ranked e futuro
Quero destacar também os “Jogos da Galera”, que continuam sendo o momento de descompressão dentro do multiplayer, com modos mais arcade como Jogo de Armas, Uma no Tambor, Infectados e o favorito atual, Caça Objetos, que transforma jogadores em itens do mapa num divertido “esconde-esconde”. Vale dizer que esse modo rendia muito XP e eu mesmo subi de nível mais rápido nele. Seria interessante que outros modos também tivessem maior valorização em XP para incentivar a variedade.
Por fim, a Ranked voltou com força, mas sofreu no início com hackers, obrigando a Treyarch a limitar o crossplay entre consoles. As recompensas eram fracas, e o SBMM alto tornava a experiência tensa: os novatos ganhavam folga para aprender, enquanto os veteranos “davam a vida” em cada rodada. Ainda assim, os Prestígios e o uso de classes personalizadas eram mais recompensadores do que seguir as regras da Call of Duty League e suas premiações irrisórias. Prometem melhorias no próximo título.
Conclusão
O multiplayer de Call of Duty: Black Ops 6 ficou muito abaixo de seu verdadeiro potencial, principalmente porque as expectativas eram grandiosas. A Treyarch teve três anos de desenvolvimento e, para muitos inclusive para mim, sempre foi a “queridinha” da franquia por seus multiplayers criativos, histórias marcantes e o clássico modo Zombies. Tirando esses dois últimos, que foram bem competentes, o modo mais acessado do jogo não condiz com o que todos esperavam, mesmo com a nova engine. O Cold War, com sua engine própria, destoava do brilhantismo técnico de Modern Warfare, mas oferecia um multiplayer mais agradável à comunidade.

Com essa velocidade extrema de movimentação, SBMM no talo, mapas pequenos, modos frenéticos e metas travadas, Black Ops 6 acabou se tornando uma experiência psicodélica e exaustiva, que poucos conseguiram curtir de forma realmente prazerosa. Apesar de ter me divertido em certos momentos, não consigo enxergá-lo como um grande multiplayer. Ele sucumbiu à toxicidade da dopamina e ao impacto do Warzone, que distorceram sua qualidade.
Agora, é torcer para que Black Ops 7 seja para BO6 o que MW3 foi em contraponto ao MW2: uma redenção.

























































































































































































































































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