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  • Paulo Lídio

Preacher – 4ª Temporada | Crítica: Honrando um legado, porém cabia mais


A quarta temporada de Preacher foi a última do seriado, porém cabia mais para o público (Imagem: AMC / Reprodução)

Há quatro anos atrás, quando a série Preacher foi anunciada, muitos fãs dos quadrinhos ficaram preocupados com a qualidade do produto que a AMC iria produzir. Afinal de contas, as histórias de Garth Ennis e desenhos de Steve Dillon possuem um verdadeiro legado no selo DC Vertigo, conquistando uma grande legião de fãs. Por se tratar de uma história que envolve religião, drogas, armas, mortes, dentre outros fatores, esperava-se que o estúdio não levasse o conteúdo com qualidade. Ledo engano, visto que, após quatro temporadas, chegamos a uma season finale que soube honrar o legado dos quadrinhos, além de criar sua própria identidade e nos mostrar uma versão diferente do que lemos nas HQs.

Desde os primeiros episódios da temporada inicial, a missão de Jesse Custer (Dominic Cooper) é clara: encontrar Deus cara a cara e questioná-lo sobre os acontecimentos de sua vida. Tudo isso ganha ainda mais peso quando o Pastor recebe a visita da entidade Gênesis, que lhe dá os poderes de fazer as pessoas obedecerem às suas ordens. Essa simples premissa sofreu uma grande evolução no decorrer dos anos, onde Jesse cada vez mais refletia se era um escolhido do Senhor ou simplesmente alguém que deu sorte de adquirir os poderes. Graças a genialidade de Dominic Cooper em executar com maestria o papel, cada vez vamos nos aprofundando na sua insana busca, evidenciando cada vez mais como os traumas do passado influenciam diretamente na sua vida. Aliás, traumas estes que refletem diretamente em seu relacionamento com Tulip, que são constantemente trazidos à tona nas idas e vindas do casal durante o último ano.

A série mal acabou e já sentimos falta deste trio (Foto: AMC / Reprodução)

Aliás, quando se trata de apontar a evolução de um personagem, não podemos deixar de destacar Tulip O’Hare (Ruth Negga) chegando ao fim de sua jornada. Nas palavras da mesma, ela e Jesse estão destinados a ficar juntos até o fim, passando por altos e baixos, idas e vindas, chegando próximo de presenciarem o apocalipse. A lealdade dela com seu parceiro é notável, entretanto, a sua independência é que torna a personagem ainda mais envolvente. Em nenhum momento temos a situação de donzela em perigo, pelo contrário, ela é totalmente badass, tomando a dianteira em diversas situações, sem pensar nas consequências do perigo que enfrenta. O dilema emocional de Tulip contribui ainda mais na complexidade da trama, já que ao mesmo tempo em que Jesse Custer é o amor da sua vida, ela também desenvolve um grande amor por seu melhor amigo e também de seu marido, o vampiro irlandês Cassidy (Joe Gilgun).

Caso você acompanhe Preacher desde a primeira temporada, existe a grande possibilidade de você ter em Cassidy o seu personagem favorito. De um vampiro louco, viciado em drogas, sempre em busca de aventura e desfrutando/reclamando da vida eterna, o espectador acaba por ganhar alguém com quem se identifique a cada episódio. A lealdade de Cass com Jesse é evidenciada de maneira forte, pois ao mesmo tempo em que é apaixonado pela esposa do melhor amigo, o vampiro honra e protege o Pastor com unhas e dentes, embarcando nas mais loucas jornadas junto com a dupla. Para muitos, pode ser que Cassidy ficou descaracterizado em relação as temporadas anteriores, todavia, é satisfatório saber que um personagem saiu do papel de alívio cômico para ser um dos centrais de todo seriado. Inclusive, na cena final da série, temos a certeza de que tudo que o vampiro passou em sua vida não teve o mesmo peso e valor do que as aventuras com Jesse e Tulip.

De todos os personagens na série, Herr Starr é com certeza o mais fiel aos quadrinhos (Foto: AMC / Reprodução)

Os demais personagens da trama também possuem destaque e pouco a pouco vão encerrando seus arcos, sem ficar apenas como complementos do trio de protagonistas. Herr Starr (Pip Torrens) sem sombra de dúvidas é aquele que mais honrou o legado de Ennis e Dillon, com uma caracterização perfeita, trejeitos dos quadrinhos executados com sucesso em tela e um arco de redenção pessoal fantástico, principalmente nesta última temporada. Principal e mais legal capanga de Herr Starr, a Agente Featherstone (Julie Ann Emery) produz mais do mesmo que vimos em tela desde sua primeira aparição, entretanto, após anos de subordinação, sua última participação nos traz à tona a sua motivação desde o início. Um dos principais vilões da temporada, por assim dizer, demonstra ainda mais o tamanho de seu poder. A perseguição do Santo dos Assassinos (Graham McTavish) a Jesse Custer beira o fanatismo, já que a entidade é imortal, possui o poder de matar qualquer criatura humana ou divina e vive com a sombra da morte de sua esposa e filha no passado. Todavia, mesmo com esse peso dramático, sabemos que ele sempre acaba sendo uma marionete, seja dos anjos do céu ou dos demônios do inferno. Entretanto, seu desfecho é sensacional, trazendo a tão sonhada e desejada vingança que o personagem buscou no decorrer dos anos, criando inclusive certa empatia com o espectador.

A série soube ousar ao manter o enredo dos quadrinhos e ter Deus como principal vilão (Foto: AMC / Reprodução)

O mesmo não pode ser dito de Eugene “Cara de Cu” (Ian Colletti), que a cada ano nos deixava na expectativa de que fosse tornar-se o personagem que vimos nos quadrinhos, mas que com o fim da série, sequer chegou perto de adquirir a mesma empatia e insanidade da material base. Aliás, para piorar a sensação, somente no último episódio acompanhamos o verdadeiro Cara de Cu dos quadrinhos, mas tudo isso em uma cena de 15 segundos, mostrando que o melhor ainda estaria por vir, mas que ficará apenas no nosso imaginário. Mesmo que tenhamos uma horda de personagens em Preacher, é inegável que os dois principais da trama são Jesse Custer e Deus (Mark Harelik). Aquilo que torna a série tão polêmica, O Todo Poderoso é mostrado de forma totalmente oposta aos que creem na figura divina na vida real. Dono de um ego gigantesco, arrogante, manipulador e sádico, finalmente nos é revelado o porque de seu interesse em Jesse Custer e na entidade Gênesis, nos mostrando o que houve no decorrer da história da humanidade e que o tão famoso “Plano de Deus” não é lá um plano muito bem elaborado. Em suma, mesmo que não seja idêntico aos quadrinhos, é um personagem que bebe muito na fonte de seu criador, além de uma grande crítica social a fé cega de algumas pessoas, que as vezes acabam sendo manipuladas por dogmas e doutrinas na vida real.

A dificuldade de se adaptar um quadrinho como Preacher nos dias atuais é gigante, mas graças a genialidade de Sam Catlin, Seth Rogen e Evan Goldberg, o espectador ganhou uma série que agrada tanto aos fãs de HQs quanto aos que estão sendo introduzidos agora a este universo. É uma pena que alguns detalhes acabaram por ficar de fora, muito por culpa da AMC ter encomendado apenas uma season finale, já que com certeza Preacher tinha potencial para durar muito mais. Todavia, este fim chega com a certeza de que fomos agraciados com uma das melhores adaptações de quadrinhos para live action de todos os tempos.

Nota: 5/5

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