- Paulo Lídio
Raio Negro - 1ª Temporada | Crítica: A CW mostra que subiu o nível
Antes de começar esta crítica, é necessário explicar um pouco sobre quem é o Raio Negro nos quadrinhos. O personagem foi criado por Tonyu Isabella e Trevor Von Eden em 1977 e foi o primeiro herói negro do Universo DC. Seus poderes estão mais ligados a eletrocinese, podendo gerar campos de força eletromagnético e voo. Raio Negro, nome de herói usado por Jefferson Pierce, também é mestre em artes marciais e um atleta de alto nível, tendo até já participado de Olimpíadas e ganhado medalhas pelos EUA. Esse é um breve resumo do personagem e sua contraparte das HQs, porém temos que dissecar e apontar sua importância na TV.
Em sua série live-action, em parceria da CW com a DC e netflix, criada por Salim Akil (The Game) e Mara Brock Akil (Cougar Town), o vigilante Raio Negro é Jefferson Pierce (Cress Williams), um homem aposentado de seu trabalho como super-herói, que decide trabalhar em prol da sua comunidade como professor e eventualmente diretor da escola local. Uma decisão pensada no bem de sua família. Divorciado e com duas filhas adolescentes, ele se vê obrigado a voltar a atividade depois do surgimento de uma gangue local conhecida como The 100, que eleva a criminalidade e corrupção de sua comunidade. Apesar de parecer algo clichê visto em séries de heróis, o trabalho de Jefferson é fundamental como um líder onde mora. Ser o diretor para ele não limita-se apenas no quesito acadêmico, ele abraça a população local, sem juízo de valores, disposto a acabar com as injustiças com ou sem seus poderes. Fica evidenciado também a preocupação da série em mostrar elementos tristes que passamos na nossa sociedade e explorá-los no seriado. Violência policial, racismo, homofobia, destrato do governo com comunidades e pessoas carentes, dentre outros fatores. Em uma época onde ter sua própria opinião e defender uma bandeira é crime, é bom ver que as séries de heróis se preocupam em humanizar seus personagens e sair em defesa dessas minorias, sem deixar de lado todo o público médio envolvido. Vale o destaque da série se passar no mesmo universo dos demais seriados do canal, portanto, não se surpreenda se no futuro houver um crossover ou algo do tipo.
No quesito de elenco a série segue demonstrando seu poder e importância. A família de Jefferson está sempre em evidência, mostrando que tanto seu trabalho como herói ou como diretor é feito em prol de suas garotas. Anissa Pierce (Nafessa Williams) é a filha mais velha da família e acaba tendo um papel fundamental na trama. Ela dá vida a personagem Tormenta, que após descobrir seus poderes, possui uma jornada interessante no seriado. Vale destacar também que a CW mantém seu padrão de série que mostra a aborda todos os públicos. Não seria diferente em Raio Negro, visto que Anissa é assumidamente homossexual e conta com o apoio de sua família, mostrando que as diferenças estão sendo abordadas de maneira positiva. Indo mais além, a parceria formada com seu pai Raio Negro resulta sempre em momentos épicos, mostrando que aos poucos tem potencial para se tornar muito além de uma coadjuvante. Jennifer Pierce (China Anne McClain) é a filha mais nova da família e também possui seu arco na trama, deixando série mais próxima do público jovem. Dramas adolescentes, além da boa e velha trama de descoberta de poderes contribuem para criar uma relação com essa personagem.
Outros membros da série Raio Negro merecem seu destaque. Lynn Pierce (Christine Adams) é a ex-esposa de Jefferson e trabalha como neurologista no hospital local. Seu enredo é basicamente uma jornada de aceitação, visto que ela sempre encarou como um problema a vida dupla de seu ex-marido e como isso afeta a família. É claro que se temos uma série com vigilantes, temos seus policiais e mentores juntos. Bill Henderson (Damon Grupton) é o chefe de polícia local que obviamente é contra as ações do Raio Negro e como a lei é infligida em seus atos, mas ambos possuem em comum o senso de justiça com a cidade, além de Bill ser um dos poucos policiais negros da cidade de Freeland. Peter Gambi (James Remar) acaba por se tornar uma espécie de mentor e parceiro de Jefferson em sua jornada. Por ser um ex agente do governo, seu conhecimento em tecnologia e táticas de guerra acabam por ser fundamentais, mesmo que clichês, na jornada do herói. E claro não podemos deixar de citar o vilão Tobias Whale (Marvin ‘Krondon’ Jones III), o principal inimigo do herói Raio Negro. Apesar de não possuir nada em espetacular, o ator cumpre o papel que toda boa série de super heróis precisa nos dias atuais, onde o mainstream está saturado de produções do tipo: gerar uma forte ameaça ao protagonista, gerar antipatia com os personagens e um ódio por parte do público.
Nos quesitos técnicos a série acaba por sofrer o mesmo que as demais produções do canal CW (Arrow, The Flash, Supergirl e Legends of Tomorrow). Os efeitos especiais até possuem um bom nível, visto que os poderes de eletricidade do Raio Negro acabam tornando-se críveis e passíveis de aceitação. O problema segue na coreografia de combate dos personagens, algo que já é um problema constante nas séries citadas acima. Mas o destaque principal fica pela ambientação do cenário e trilha sonora da produção. O seriado nos mostra os dois lados opostos de uma cidade, tanto o gueto quanto a população de classe média para cima, evidenciando a temática do show. A trilha sonora por sua vez sabe trabalhar muito bem elementos do hip hop, soul e jazz, o que acaba inclusive nos remetendo quase que instantaneamente ao trabalho bem feito da netflix com Luke Cage.
Raio Negro é uma série que chegou sem quase nenhuma expectativa ou hype do público, mas como quase todo bom seriado, soube-se provar aos espectadores que é importante e que conquistou seu lugar ao sol. Resta saber se com o tempo cairá na "maldição da CW" e perde fôlego nas próximas temporadas com tramas ruins e novelísticas. Apesar de tudo, por ter a mão da netflix na parada, arrisco dizer que o Raio Negro estará de volta e em altíssimo nível.
Nota: 4/5
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