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  • Alexandre Agassi

Oscar Popular: por que é importante? - Opinião


Oscar Popular: por que é importante? - Opinião

Recentemente, a internet foi à loucura com o anúncio de que o Oscar criaria uma categoria apenas para filmes populares: “outstanding achievement in popular film”, como diz a descrição. Ou seja, o prêmio seria dado a “conquistas extraordinárias” de um filme popular.

O problema que vejo nas discussões atuais é uma revoltada minoria de cinéfilos, críticos de cinema e jornalistas contra uma massa afogada num clima silencioso. Mas contente em ver seus filmes favoritos sendo reconhecidos pela Academia. Veja bem, há muitos pontos questionáveis aqui e os quais dou razão para a ”rebelião cult” do momento. No entanto, entendo que esse debate se amplie num caleidoscópio complexo de visões a serem abordadas nesta matéria.

Quais serão os critérios da categoria?

Primeiro de tudo, a Academia não deixou claro o que poderá ser considerado como uma “conquista extraordinária”. Trata-se de um termo muito vago, visto que uma “conquista extraordinária” é capaz de assumir diversos sentidos. Afinal, seria uma bilheteria altíssima? Ou uma “fan base” forte? Um filme de um estúdio grande, com efeitos visuais caríssimos e muita computação gráfica (CG)?

Já pensou Transformers levando uma estatueta?

É realmente difícil de explicar uma categoria quando quem deve uma boa explicação é a própria Academia. Até agora, imagina-se indicados como os filmes de super-heróis da Marvel e DC, ou então franquias lucrativas, tais como Transformers, Star Wars, Harry Potter e Velozes e Furiosos. Isso porque esses são longas que cabem nas três questões que levantei antes: todos eles tem em comum ótimas bilheterias, uma legião de fãs e ainda são reforçados com muita tela verde ao fundo.

Cinema Independente

Uma das grandes contribuições do Oscar nos últimos anos é a de divulgar o cinema independente, pois ele também merece ser reconhecido. Hollywood é composta por pouquíssimas empresas dominando a maior parte do mercado interno e externo simultaneamente. Por isso, as empresas independentes vivem ameaçadas a falência – isso quando não são compradas pelas grandes, como aconteceu com a Miramax na década de 1990.

Moonlight nunca teria ficado conhecido se não fosse o Oscar

Se não fosse o Oscar, Moonlight (2016) não estaria levando estatuetas, enquanto Lady Bird (2017) seria apenas um filme esquecido. Porém, há uma razão para a existência desse fenômeno atualmente.

O Oscar de 1997 – o ano que tudo mudou

Desde sua criação, a Academia normalmente premiou as grandes bilheterias do circuito. Não é à toa que coletamos ao longo do tempo obras primas como E O Vento Levou (1939), Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança (1977), Titanic (1997), Rocky – Um Lutador (1976), A Noviça Rebelde (1965), Ben-Hur (1959) e O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (2003). Semelhança entre eles? Sim, além de sucessos absolutos na bilheteria, todos eles receberam no mínimo dez indicações e dessas levaram pelo menos três prêmios!

A partir da década de 1990, entretanto, o cinema independente foi ganhando cada vez mais espaço nas indicações. O ano de 1997 foi o mais marcante de todos por ter tanto filme de produtoras menores concorrendo, algo que surpreendeu todos que costumam assistir a cerimônia.

Ralph Fiennes e Kristin Scott Thomas em O Paciente Inglês

Era a vez de O Paciente Inglês levar a estatueta de Melhor Filme, ao passo que outros pouco conhecidos pelo público médio estavam em proeminência. Shine – Brilhante, Fargo, Segredos e Mentiras e Na Corda Bamba são apenas alguns desses filmes de destaque daquele ano.

Com raras exceções – como Avatar (2009), Mad Max: Estrada da Fúria (2015) e Dunkirk (2017) – hoje constatamos em sua maioria filmes de estúdios pequenos concorrendo as categorias principais do Oscar (Filme, Ator, Atriz, Diretor, Roteiro). Isso, além de positivo por reconhecer a excelente qualidade que muitos desses longas podem apresentar, também contribui para com a ascensão das produtoras menores e a quebra do monopólio das gigantes do mercado.

Quer dizer, portanto, que o “Oscar Popular” será ruim, pois irá retirar os filmes independentes de cena e agora apenas os sucessos mundiais receberão prêmios? Não, não é bem assim!

Os filmes atuais perderam a qualidade?

Parece que sempre que se discute cinema, num momento tudo converge a essa desgastada pergunta: os filmes de hoje tem a mesma qualidade dos antigos? E a resposta é: depende!

Não tem como comparar um filme atual com um que saiu há vinte anos. Eram outros tempos, outra linguagem cinematográfica, a qual se moldou pouco a pouco até chegar onde estamos. Cinema é arte, nele assistimos à perspectiva do diretor e toda uma imensa equipe traduzida em imagem e som, constituindo o que chamamos de audiovisual. Em vista disso, precisamos tomar consciência de que o panorama social-político-econômico atual do país ou do mundo são fatores que influenciam diretamente na obra.

Gêneros surgem, atingem seu ápice e depois são deixados em segundo plano. Como aconteceu com o faroeste nas décadas de 1940 a 1960 e a ficção científica nos anos 80. Em 2018, nota-se o auge dos filmes de super-heróis das grandes editoras DC e Marvel, e que perdurará dessa maneira provavelmente por mais uns dez anos.

Pantera Negra tem um dos melhores vilões já vistos no cinema

Ao todo, temos excelentes filmes de heróis, enquanto há outros que nem tanto. Alguns críticos gostam de colocar os efeitos visuais em confronto com bons roteiros e boas atuações. Mas, um não anula o outro e todos podem caminhar juntos. Há tantos filmes repletos de tudo isso. O primeiro exemplo é Batman – O Cavaleiro das Trevas (2008), que inclusive rendeu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante para Heath Ledger. Ou então pare para observar os dois últimos filmes da Marvel Studios: Pantera Negra (2018), em que tivemos o vilão mais profundo do MCU até agora, Killmonger, interpretado pelo excelente Michael B. Jordan, e que inclusive já fiz um texto sobre o personagem aqui no site; e o outro filme é Vingadores: Guerra Infinita (2018), que também tivemos outro papel esplêndido como foi o caso de Josh Brolin como Thanos. Vivemos na era em que CG e boas atuações podem coexistir. Andy Serkis está aí para comprovar isso depois de atuar em tantos papéis feitos de CG como Gollum em O Senhor dos Anéis e O Hobbit e como Caesar na trilogia reboot de Planeta dos Macacos.

Andy Serkis em um de seus trabalhos, como Caesar em Planeta dos Macacos: A Guerra (2017)

Então por que os filmes populares não marcam mais a mesma frequência na premiação?

Porque foi uma decisão tomada pelos próprios críticos da Academia! Eles que preferiram filmes de fora do circuito comum aos já consagrados mundialmente. Ademais, os grandes já possuem seu espaço garantido nas categorias técnicas – Melhor Mixagem de Som, Edição de Som, Montagem, Fotografia, Trilha Sonora, Efeitos Visuais etc.

Contudo, uma vez que o Oscar 2018 marcou a sua audiência mais baixa da história, medidas foram necessárias para mudar essa situação. É a lei básica do mercado: se há muita oferta e muita procura, o valor do produto cresce. No entanto, se há muita oferta e pouca procura, o produto desvaloriza. A televisão é um sistema muito volátil, os índices de audiência oscilam bastante, e com isso, programas ganham e perdem valor muito rapidamente. Consequentemente, a perda de quase 20% de audiência em relação ao ano anterior faz com que os comerciais passem a valer menos, bem como o valor da estatueta, e o prestígio da Academia não é mais o mesmo. Neste cenário, todos acabam perdendo dinheiro: o empresário que comprou aqueles 30 segundos do canal de televisão, os donos do canal que está transmitindo a cerimônia, e por último os críticos da Academia, os produtores, diretores, roteiristas, atores, atrizes e todos que passaram pelo tapete vermelho.

Oscar 2018: a decadência da premiação?

A criação de uma categoria para os filmes populares foi o meio-termo mais sábio que a Academia conseguiu achar. Assim, não será necessário ceder vagas para os longas de estúdios grandes. E o cinéfilo ficará agradecido por ver os filmes que gosta sendo reconhecidos, bem como as pessoas que apenas assistem aos do circuito convencional. A propósito, a duração do programa deverá ser reduzida em três horas justamente com o objetivo de conquistar a audiência perdida ao longo dos anos. Dessa forma, alguns prêmios serão dados no horário do intervalo – provavelmente as categorias técnicas. Um pouco injusto, pois não é menos importante o trabalho dessas pessoas, como maquiadores, editores, figurinistas, designers. Porém, diante do problema foi preciso tomar uma decisão dessa gravidade infelizmente.

O Oscar é como se fosse o “Super Bowl” do cinema. E apesar de existirem cerimônias próprias apenas para os filmes mais populares, como o People’s Choice Awards ou o MTV Movie & TV Awards, o Oscar ainda é o mais visto e almejado. Por isso, a nova categoria não irá excluir aqueles que já são reconhecidos, mas agradar os mais diversos públicos para tentar resgatar o prestígio que tinha até alguns anos atrás.

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