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  • Por: J.V. Vicente

O Doutrinador | Crítica - Adaptação de quadrinhos no Brasil chegou com o pé na porta


O Doutrinador é um personagem de quadrinhos brasileiros criado pelo designer gráfico Luciano Cunha. O vigilante é um anti-herói que faz justiça com as próprias mãos matando os políticos corruptos que lucram através da miséria do povo. Após o autor negociar os direitos com as produtoras DownTown Filmes e Paris Filmes para uma adaptação em longa metragem e série live action, o filme do personagem chegou as telonas.

Em uma década em que a corrupção no Brasil não só é perceptiva, como também é explicitamente encarada como parte do sistema político e social do país, o cinema nacional se torna um palco de fortes reflexões. Um filme que abordou isso de forma brutal foi “Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro”. Agora, oito anos após essa produção, o cineasta Gustavo Bonafé, codiretor dos filmes “Chocante” e “Legalize Já: Amizade Nunca Morre” faz uma adaptação cinematográfica que impressiona pela ousadia e qualidade.

O cinema nacional não é adepto dos filmes de ação blockbuster, formato dominado pelos longas americanos, porém, o Doutrinador rompe com esses paradigmas e se dedica a criar uma trama de qualidade que conta a história de um justiceiro mascarado.

Diferentemente dos quadrinhos, onde a origem do personagem é um mistério, a trama do filme explica os motivos do protagonista. Na história, Miguel (Kiko Pissolato) é um agente federal que sofre uma tragédia causada pelo desvio de verba de políticos corruptos. Após ver o sistema falhar em cumprir a lei, ele decide usar seu treinamento para fazer justiça com as próprias mãos, assassinando todos os políticos que o prejudicaram. O roteiro é simples e sabe explicar a tragédia do personagem, porém, é a atuação de Pissolato que tornam o personagem cativante e poderoso.

Além de Miguel, outro destaque é a coo protagonista Nina (Tainá Medina), uma hacktivista que usa suas habilidades para ajudar Miguel em sua busca por justiça. A trama também explica as motivações da garota de forma a levar a empatia do público, abordando em sua trama pessoal os acontecimentos que a levaram para sua situação atual. Mas o maior mérito fica para a atriz que exibe uma atuação forte e empática, através do talento ela consegue transmitir bem a natureza rebelde rock and roll de sua personagem.

O grande mérito do longa está em sua discussão ideológica. Como é de costume em uma história assim, o público está sujeito a se questionar. No consciente, o espectador sabe que o personagem está errado, porém, é difícil não se pegar fazendo a seguinte pergunta. “O que faríamos no lugar dele? ”. A corrupção, burocracia, desigualdade, manipulação e assassinatos são cruamente evidentes, e mesmo assim, o povo mantêm a cabeça abaixada esperando que um político honesto os venha salvar ou que o sistema comece a se limpar milagrosamente.

Cada dia que passa a corrupção vai destruindo vidas e gerando cada vez mais tragédias; e a legislação e burocracia não ajudam a fazer justiça. É impossível que durante o filme você não tome um pouco o partido do personagem, por mais que ele tenha cedido ao fascismo e a barbárie, o que fazer quando o próprio sistema contribui para a impunidade daqueles que te prejudicaram? Como buscar justiça? Esse assunto polêmico está muito presente na atualidade, e por isso, não atoa, que personagens como o Doutrinador vem sido abordados tanta frequência, como por exemplo a personagem de Jennifer Garner no recente filme “A Justiceira”.

É através dessa plataforma que o filme ganha intensidade, pois como de costume, um vigilante sabe fazer você pensar. Porém, o longa apresenta problemas muito comuns; O roteiro, direto e linear, deixa a desejar em questões de originalidade. A narrativa é conduzida de forma clichê. A trilha sonora, a linearidade e as cenas de transição são muito cruas.

Apesar disso, não há como negar que para o primeiro filme brasileiro que aborda um anti-herói ao estilo “Arrow” e “Justiceiro”, o longa chegou com o pé na porta. Os personagens são bem escritos e tem seu tempo certo de tela; a fotografia é dinâmica; as cenas de ação são bem conduzidas; e os momentos de adrenalina sabem elevar a expectativa do espectador. Com certeza o longa fomenta esperanças para uma nova era de filmes de ação no cinema brasileiro.

Nota 3,5 de 5.

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