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Bruno Bragante

ENTREVISTA | Guilherme Briggs fala sobre os 100 anos de Orlando Drummond

Chegar aos 100 anos e continuar na ativa não é pra todo mundo. Orlando Drummond, que completa um século de vida nesta sexta-feira (18), foge da estatística e prova que, assim como um bom vinho, o talento só melhora com o passar dos anos.

Orlando iniciou sua carreira no rádio como contrarregra, e ficou eternizado no meio geek por seus inúmeros trabalhos na dublagem, desde clássicos como Scooby-Doo e Vingador (Caverna do Dragão), até projetos que cativaram as novas gerações, como Puro Osso, em As Terríveis Aventuras de Billy e Mandy. Também é conhecido por interpretar Seu Peru, na clássica Escolinha do Professor Raimundo, cuja atual temporada contará com sua participação especial no próximo domingo (20).

Orlando ao lado de Marcos Caruso, o "atual" Seu Peru (Foto: TV Globo/Estevam Avellar)

Orlando ao lado de Marcos Caruso, o "atual" Seu Peru (Foto: TV Globo/Estevam Avellar)

E, claro, é impossível falar de Orlando Drummond sem mencionar outro nome de peso para a dublagem brasileira: Guilherme Briggs. Ele, que já assumiu a voz de personagens icônicos como Buzz Lightyear (Toy Story), Optimus Prime (Transformers) e Cosmo (Os Padrinhos Mágicos), é amigo íntimo e pupilo de Orlando, trabalhando juntos em diversos projetos como O Estranho Mundo de Jack (1993) e A Mansão Foster para Amigos Imaginários (2004-2009).

Em entrevista exclusiva à Be Geeks, Briggs compartilha alguns causos e comenta sobre a importância dessa figura tão peculiar para a TV e Cinema.

NOVIDADE! Agora você também pode ouvir essa matéria com a entrevista completa na versão em áudio, clicando no player abaixo:

BE GEEKS: Como o Orlando contribuiu para o início de sua carreira no mundo da dublagem?

BRIGGS: O Drummond desde o início sempre foi muito educado, muito simpático, muito divertido comigo. [...] Ele sempre observava minha gravação, sempre me dava conselhos, sempre me dava dicas. E um dia ele me falou que ia me levar na Herbert Richers [estúdio de dublagem no Rio], que eu morria de medo de ir. Ele falou “se prepara, malandro, porque eu vou botar você no meu carro e vou te levar para Herbert Richers e você vai começar a trabalhar, sim senhor! Tem que parar com esse medo”. E um dia ele me fez isso [...] e foi assim que eu comecei a trabalhar na Herbert e ser conhecido por outros estúdios, outros diretores, enfim. O Drummond foi muito importante para o meu início de carreira.

B.G: Qual foi o primeiro trabalho que conheceu do Orlando?

BRIGGS: O primeiro trabalho do Drummond acredito que tenha sido o Scooby-Doo, foi a primeira coisa que eu fiquei encantado, porque sempre adorei bichos e sempre gostei de cachorro, de gato, de qualquer tipo de bicho. E eu achava engraçadíssimo aquela voz do cachorro Scooby-Doo: ela tinha uma coisa marota, ao mesmo tempo boba, esperta e inconsequente. Uma voz meio como se fosse um velhinho também, sabe? Um velhinho espertinho. E isso sempre me causou muitas risadas, e eu comecei a imitar essa voz do Scooby-Doo no colégio, com amigos. [...] O Alf, que foi outro personagem que me marcou muito... Isso mais tarde, mas eu era doido pelo Alf, sou até hoje. A voz que ele imprimiu no Alf é diferente do original, o original é um cara mais sério, descolado, e o Drummond deu uma malícia, uma malandragem no Alf tão brasileira que assim que ficou delicioso. O Drummond consegue passar uma alma brasileira aos personagens que sempre me cativa muito.

B.G: Qual foi o primeiro trabalho de dublagem que vocês dividiram? Como foi essa experiência?

BRIGGS: O primeiro trabalho que eu dividi com ele, dublando junto com ele, lado a lado com ele, um papel maior e fixo, foi “Jornada nas Estrelas: Deep Space Nine”, que era de Star Trek, e ele fazia o Odo, que era como se fosse um policial, um xerife, a bordo da estação espacial. E o meu personagem era o Quark, que era o dono de um cassino, e o meu personagem todo desonesto, só pensava em dinheiro, se dar bem, e o personagem do Drummond todo certinho. Então era engraçadíssimo dublar junto com ele na época que a gente dublava junto. A gente ria muito das situações dos personagens e o Odo sempre atrás do Quark, querendo saber o que ele estava aprontando, a quem ele estava enganando, as investigações do Odo e o Quark sempre fugindo dele. Era uma delícia, né? O Drummond sempre comentando sobre o meu personagem, dizendo que ele era um “danadinho”, que ele era terrível, dava a volta em todo mundo. Então era maravilhoso trabalhar com o Drummond nessa série.

B.G: Qual o personagem que ele dublou que mais te marcou?

BRIGGS: É muito complicado dizer o personagem mais me marcou, porque todos eles são muito impactantes. Todos os personagens que o Drummond faz eu gosto muito, desde o Sargento García, do Zorro, passando pelo próprio Scooby-Doo, Vingador, de Caverna do Dragão, o Alf, Popeye, Hong Kong Fu, que eu adorava - era um cachorro da Hanna Barbera que era mestre das artes marciais. Todos os personagens do Drummond são deliciosos, então assim, eu começava a seguir aquela voz e depois eu descobri o nome: Orlando Drummond. E ficava atrás de todo e qualquer trabalho dele, parava o que eu estava fazendo para escutar, para admirar. Eu poderia assistir uma série que não fosse boa, uma coisa que não tinha nada a ver com meu gosto, só por conta do Drummond. Então assim, em todos os personagens, o que me marca é o Drummond, a interpretação dele, a voz dele, os tipos dele, qualquer coisa que ele faça eu sempre vou gostar, eu sempre vou amar. Puro Osso, mais recentemente, das Terríveis Aventuras de Billy e Mandy, também adorava esse personagem que ele fazia. Enfim, o Drummond é um mestre no que faz, sempre foi e sempre vai ser.

B.G: Tem alguma história de bastidores que você poderia contar pra gente?

BRIGGS: História de bastidor, assim, as do Drummond são as melhores do universo. Eu posso contar uma que ele me contou dos bastidores dele na época da rádio, que eles precisavam de um galo para cantar, para fazer a vinheta. E o Drummond me contando, eu morrendo de rir, que levaram vários galos para dentro do estúdio, forraram com jornal porque os galos estavam fazendo a festa no chão. Só que os galos estavam meio tímidos e não cantavam [...] Aí o Drummond, meio que para dar uma animada nos galos, começou a cacarejar e cantar. E o cara da rádio escutou e falou “Opa, qual foi o galo? Qual deles que foi?”. Eu não sei se eles botaram números, galo 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8... Enfim, aí descobriram que não tinha sido nenhum dos galos, mas que tinha sido o Drummond que tinha feito um galo perfeito. O resultado é que eles tiraram todos os galos do estúdio e vários galos ficaram muito chateados com o Drummond. Houve até ameaças, segundo ele disse. Ameaças de morte.

B.G: Qual a importância do Orlando para a comunicação brasileira?

BRIGGS: Ele é fundamental, porque ele conquistou públicos do rádio, da televisão - da televisão como ator e da televisão como dublador. Ele fazia contrarregra, ele foi um excelente ator, um excelente comediante, uma pessoa que trouxe alegria para muitas pessoas, traz ainda até hoje. E ele é imortal, nunca vai ser esquecido, se depender de mim, eu nunca vou deixar que ele seja esquecido. A própria família dele que tem artistas, os netos dele são atores incríveis, dubladores, artistas excelentes, vão continuar carregando esta tocha para sempre. O Drummond tem que ser eternamente lembrado, enaltecido e guardado em nossos corações.

B.G: O que é preciso para conhecer o Orlando?

BRIGGS: Para conhecer o Drummond, a pessoa tem que saber que ele tem um humor incrível. Ele brinca com todo mundo, ele não tem medo de nada, o humor não tem limite para o Drummond. Eu sei de situações dele que são maravilhosas, deliciosas, dele falar coisas que não deveria em ambientes totalmente fora de questão, a ponto de ser posto para fora de certos lugares porque ele fazia piada deliciosa, perfeita, mas em momentos em que o país passava por repressão, passava por momentos difíceis. E o Drummond não perdia o humor, não deixava a peteca cair, mesmo nesses momentos. Então é assim, você tem que entender que o Drummond é puro amor e puro humor, ele é as duas coisas juntas.

B.G: Qual dublagem sua você gostaria de trocar com ele por um dia?

BRIGGS: Olha, eu já realizei um sonho. O Drummond certa vez teve que viajar e o seriado Blossom, dublado pela Sylvia Salustti, da Disney, que era um maravilhoso seriado infantojuvenil, de uma menina adolescente, super talentosa... E tem um episódio dublado pela Sylvia Salustti em que ela “morre”, vai para o céu e aí ela encontra o Alf. Só que o Alf, o Drummond, estava viajando e não pôde fazer. Então o Drummond me indicou, e aí eu dublei o Alf nesse episódio especial. E foi a primeira vez que eu dublei um personagem oficial do Drummond, e ele gostou muito, ficou muito feliz e eu também.

B.G: Para finalizar, defina Orlando Drummond em uma palavra.

BRIGGS: Definir o Drummond com uma palavra? Humor. E se você colocar essa palavra humor de frente para o espelho você vai ver a palavra amor. É refletindo, é isso.

100 anos de Orlando Drummond (Foto: TV Globo/Alex Carvalho | Arte: Bruno Bragante)

100 anos de Orlando Drummond (Foto: TV Globo/Alex Carvalho | Arte: Bruno Bragante)

A equipe Be Geeks parabeniza Orlando Drummond nesta data tão especial e enaltece sua contribuição inigualável à dublagem e audiovisual brasileiro!

*Contribuíram para a matéria: Gustavo Amorim (voz) | Paulo Lídio (pesquisa)

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