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  • Alexandre Agassi

Como Tubarão revolucionou o cinema?


Ir ao cinema hoje pode parecer algo comum e banal, mas há 45 anos, era muito diferente da maneira como você o vê atualmente. Isso tudo se deve a um homem. Este homem é Steven Spielberg.

Há 45 anos, num dia como hoje (20), chegava aos cinemas Tubarão. Era um dia de verão nos Estados Unidos, quando um jovem Spielberg realizava seu segundo filme da carreira e mal imaginava as grandes obras que ainda iria realizar. Hoje todos já devem ter ouvido falar em Indiana Jones, E.T., Jurassic Park, Minority Report, mas tudo isso se deve a Tubarão naquele dia de verão de 1975.c

Baseado no livro homônimo de Peter Benchley, Tubarão foi responsável por uma mudança de hábitos da cultura americana, que depois também invadiu o mundo. Hoje você pegar a sua pipoca e ir na pré-estreia mundial de Vingadores: Ultimato ou de Ascensão Skywalker é algo empolgante para o fã. Mas até 1975 isso não funcionava assim.

Cultura Americana

Fila de cinema para conferir Tubarão em 1975

Até a década de 1970, os longa-metragens de grandes estúdios estreavam em um número reduzido de salas e, conforme fazia sucesso, ia para mais e mais salas de cinema. Até mesmo aqui no Brasil. A lógica comercial era diferente de como pensamos hoje. O filme saía primeiro nos cinemas do centro das grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, e depois partia para os cinemas de bairro e de outras cidades do interior.

Contudo, isso começou a mudar nos anos 70. O Poderoso Chefão (1972) estreou em cinco salas na semana de lançamento, e já na próxima partiu para outras 300. Tubarão, no entanto, na primeira semana saiu em 465 salas! O medo da produção dar errado era grande. Primeiro porque era um número altíssimo de salas e também que a estreia era no verão, época que não saía quase filme nenhum e o movimento da indústria cinematográfica era baixíssimo. Mas onde viam receio, Spielberg via oportunidade.

Um dos fatores que facilitou foi a lei que obrigava as salas terem ar condicionado, o que chamou mais pessoas ao cinema. Além disso, Bonnie e Clyde (1967), Sem Destino (1969) e Loucuras de Verão (1973) foram lançados no verão e fizeram bastante sucesso entre os mais jovens. Tubarão conseguiu capitalizar e atrair novamente esse público, usando a TV como uma aliada. Três dias antes do lançamento do filme, a Universal Pictures investiu 700 mil dólares em trailers de 30 segundos no horário nobre da televisão estadunidense, coisa nunca antes vista até então.

Em apenas 78 dias, Tubarão ultrapassou a marca de O Poderoso Chefão e se tornou a maior bilheteria americana de todos os tempos. O tamanho sucesso chamou a atenção dos estúdios de Hollywood, nascendo assim a temporada de filmes de verão, ou como também chamamos: os filmes blockbusters, período em que os estúdios lançam seus principais filmes e são responsáveis por mais da metade do lucro dessas companhias. Sim, isso mesmo, podemos dizer que Tubarão foi o primeiro blockbuster da história!

Tubarão instarou um novo modelo de filmes de sucesso. Se antes a fórmula do sucesso eram os grandes épicos, como Cleópatra (1963) e Ben-Hur (1959), o longa de Spielberg mudou o curso da história. Os filmes de ação, aventura e fantasia até a década de 1970 costumavam ser "filmes B" de monstros gigantes e alienígenas que você conferia nos famosos drive-in. Com Tubarão, eles passaram para as principais produções cinematográficas. Graças a ele que surgiram Star Wars, Os Goonies, Gremlins, O Exterminador do Futuro, Jurassic Park, Independence Day, Harry Potter e até os filmes de super-heróis da DC e Marvel Comics.

Medo de Tubarões

Cena do filme: repare no cuidado técnico que tiveram para a criação dos efeitos visuais do longa

Por mais que hoje existam efeitos visuais que trazem uma experiência mais realista para os filmes de terror, fazendo Tubarão parecer mais um filme de ação, o longa assustou muita gente. Muita gente mesmo!

O impacto cultural provocado foi não só o medo colossal de entrar no mar quando vamos à praia, mas colocou as espécies de tubarões no oceano em ameça. A câmera de ponto de vista do tubarão visualizando as pernas dos banhistas é assustadora até hoje. Não tem como não entrar na água sem imaginar que algo hostil pode estar passando perto dos seus pés e você não consegue enxergar.

Em matéria para a Live Science, George Burgess, diretor do Programa de Pesquisa em Tubarões da Flórida, disse que até o início do século XX nem havia registro de ataques de tubarões. Com o lançamento do longa em 1975, houve um aumento significativo de torneios de pesca de tubarões. Para alguns biólogos, o filme representou desserviço, uma vez que transmitiu a noção de que tubarões são assassinos vingativos por termos invadido o espaço deles.

Steven Spielberg

Steven Spielberg durante a gravação do filme

Mas, sob a ótica do cinema, pode-se dizer que Spielberg é um gênio. Alcançar um nível de experiência cinematográfica que provoca um impacto cultural em toda uma sociedade... Bem, esse é um feito que poucos conseguem.

Nos bastidores do filme, o longa não só ultrapassou o orçamento em 300% do valor como também durou muito mais tempo para ser produzido do que estava programado. Aliás, vale ressaltar que além de caro os efeitos especiais não funcionavam direito. O tubarão mecânico criado para as filmagens tinha um funcionamento péssimo, era cheio de problemas e logo no início das gravações, ele já começou a dar defeito. Confira o vídeo abaixo para saber mais.

Porém, como citado antes: onde havia medo, Spielberg via oportunidade. O diretor, que cresceu vendo filmes de Hitchcock, percebeu que ao invés mostrar o tubarão seria mais conveniente, barato e melhor simplesmente sugerir o tubarão.

Adultos e crianças brincando na água quando alguém é afogado e comido vivo por um tubarão que ninguém consegue ver torna a ameaça muito mais assustadora do que se o próprio tubarão aparecesse. Spielberg contornou os problemas do set, filmando os banhistas sendo atacados e alternando com ângulos do ponto de vista do tubarão observando as pernas das pessoas na água, permitindo que o espectador trabalhasse com a própria imaginação e produzisse o conteúdo imagético consigo mesmo a partir disso. É assim que se provoca uma experiência suprema no cinema, quando o diretor de cinema dialoga com o próprio espectador e ao invés de expor o que acontece, ele manda que você imagine como seria a ameaça.

Foi com Tubarão que Spielberg aprendeu a sua principal habilidade como cineasta: manipular as emoções de quem assiste. Não tem como ver um filme dele sem nos envolvermos emocionalmente. Isso porque o diretor não revela o mundo como ele é, mas como o nosso protagonista vê este mundo. Em E.T.: O Extraterrestre (1982), até a metade do filme, não aparece um único adulto, com exceção da mãe de Elliot. Eles aparecem como vultos e figuras assustadoras do modo como as crianças observam o mundo dos adultos sem entender. Spielberg narra a trama sob os olhos de Elliot (Henry Thomas), aprendendo a se comunicar com E.T. No vídeo abaixo, o apresentador mostra com mais exemplos como Spielberg faz isso.

Não só isso, mas as narrativas dirigidas por Spielberg costumam acompanhar a trilha sonora de John Williams, talvez o maior nome quando se fala em trilhas sonoras hoje. Williams se consagrou com Tubarão, usando um tema que praticamente possui duas notas musicais apenas. Inclusive, ganhou o Oscar por isso em 1976, permitindo que mais tarde ele fosse realizar outras obras, tais como Star Wars, E.T., Indiana Jones e Harry Potter.

Tanto Williams, quanto Spielberg formam uma boa dupla porque eles prezam pela simplicidade. O que faz do cineasta ser tão bom em contar histórias é a sua regra em fazer uma narrativa simples, porém potente o bastante para comover o público.

Seus longas costumam protagonizar pessoas comuns, sem grandes habilidades especiais, como o homem comum, pai de família, Martin Brody (Roy Scheider), em Tubarão. Ou Elliot, uma criança simples do subúrbio da California, em E.T. É nisso que nos apoiamos e o que nos inspira ao ver um filme desse diretor. O poder que faz nos sentirmos especiais.

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