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  • Por: Alexandre Agassi e Paulo Lídio

Jessica Jones – 2ª Temporada | Crítica: Uma série que soube manter o nível para a melhor “heroína” d


Criada em 2001 por Brian Michael Bendis, Jessica Jones é a heroína mais recente a aparecer no serviço de streaming, Netflix. Traçada como uma investigadora particular, a linha narrativa da personagem segue de uma maneira não convencional para uma HQ de super-herói. Ganhou notoriedade entre os fãs de quadrinhos apenas na série de HQs Guerra Civíl (2006 – 2007) quando foi apresentada como esposa de Luke Cage. Sua HQ mais conhecida é a série Alias (2001 – 2004), no qual dentre os diversos acontecimentos ela enfrenta seu arqui-inimigo, Killgrave, o Homem-Púrpura.

Na primeira temporada do seriado de parceria entre a Marvel Studios e a Netflix, Krysten Ritter, já conhecida por seu trabalho como Jane em Breaking Bad (2008 – 2013), encarna a heroína, Jessica Jones, enquanto David Tennant, eternamente memorável pela sua brilhante e inovadora performance em Doctor Who (2005), estrela um dos melhores vilões das séries da MCU (e por que não de todo o universo cinematográfico da Marvel), Killgrave. Disposta ao debate, essa temporada inicial aborda temas que vão desde feminismo e relacionamentos abusivos, até a onipotência e o exercício dela na sociedade.


Comecemos pelo início de tudo com a sinopse oficial da segunda temporada de Jessica Jones:

“A investigadora particular Jessica Jones, de Nova York, está começando a recuperar sua vida depois de matar seu atormentador, Killgrave. Agora conhecida em toda a cidade como uma assassina super-poderosa um novo caso faz com que ela relutantemente enfrente quem ela realmente é, ao cavar mais fundo em seu passado, explorando seus motivos.”


O lançamento da continuação da série no dia 8 de março, não foi uma coincidência, visto que se trata do Dia Internacional da Mulher. Porém esta nova temporada prefere por adotar um novo tipo de abordagem. Enquanto feminismo, abuso e poder ilimitado são recorrentes na temporada anterior, esta fala sobre o valor da vida e dependências, colocando em conflito o bem comum contra a ética médica. Aqui se discute se é certo salvar uma vida a qualquer custo, mesmo que isso acarrete efeitos colaterais sérios, além de mostrar os períodos de vida pelos quais passam as pessoas que sofrem algum tipo de dependência.


O ponto de debate principal refuta o que seria o bem comum, o qual seria a preservação da vida. Uma vida deve ser salva independente dos meios a ser usados para tal? Ou a preocupação com os efeitos colaterais são o bem maior? A ética médica é posta à prova quando os métodos são arriscados demais para serem aplicados. Já no quesito da dependência, um fato que a série destaca é de que não importa se você é um viciado ou um ex viciado, as tentações estão sempre batendo à sua porta e a maneira como você lida com isso é o principal fator determinante.


A fotografia é novamente a mais primorosa das cinco séries de parceria Marvel Studios e Netflix. O estilo noir inspirado em clássicos de investigação das décadas de 1940 e 50 prevalece, bem como os cenários urbanos à noite. Guardadas as devidas proporções, é possível traçar um panorama com a Gotham City dos filme de Tim Burton em Batman (1989) e Batman: O Retorno (1992), principalmente nas cenas noturnas. Contudo, enquanto a primeira temporada segue com tal primor artístico ao longo dos episódios, esta nova temporada é marcada de altos e baixos. O primeiro episódio, por exemplo, carrega cenas com planos mais simbólicos em detrimento da preocupação em demonstrar a atual sensação de isolamento de Jessica Jones. Aqui não necessita de grande raciocínio lógico para concluir que ela se sente sufocada por seus traumas que ainda não conseguiu superar – a perda da família no acidente de carro, os quais voltaram à tona com a investigação de sua irmã adotiva Trish (Rachael Taylor). Enquanto isso, episódios como o terceiro e quarto deixam a desejar, entregando planos medíocres sem grande genialidade ou algum significado. Um detalhe a ser observado é a constante utilização de planos distantes entre câmera e personagem, dando a impressão de que alguém está sempre vigiando os personagens - um aspecto técnico curioso com a intenção de aumentar a desconfiança do espectador. As cenas de ação em muitas situações utilizam do plano holandês (câmera na diagonal), valorizando os confrontos e passando maior credibilidade, algo que ficou em falta em séries como Punho de Ferro (2017), por exemplo.


Na série, figurinos e cenários casam-se muito bem para compor a mise-en-scène, algo notório em todas as séries Marvel / Netflix até então, com exceção de Punho de Ferro (2017). Em Jessica Jones, o belo uso das cores se permite para compor uma identidade visual para a protagonista e para o seriado, que neste caso trata-se do roxo e cores análogas, como azul escuro, azul marinho, violeta e às vezes até chegando ao magenta e ao lilás. Contudo, assim como na fotografia, a segunda temporada sofre de altos e baixos na utilização das cores. Em alguns episódios essa identidade visual é realmente deixada de lado, sendo substituída pelas cores utilizadas em Defensores (2017). Por mais que sejam bem usadas, já que formam um excelente grupo de quatro cores complementares e equidistantes no círculo cromático – verde em oposição ao vermelho e o azul escuro em oposição ao amarelo-laranja – essas cores retiram a identidade visual da série de Jessica Jones.


Se existe algo que deveria ser repensado pelos produtores do estúdio é a quantidade de episódios. Para muitos fãs existe o conceito de “quanto mais episódios, melhor”. Mas isso não significa que haverá qualidade aos que assistem. Treze episódios, com quase uma hora cada, são verdadeiros exercícios de paciência. Em suma: se os três primeiros episódios da série conseguem cativar o telespectador com seu ritmo, intensidade e apresentação dos personagens, a sequência dos próximos quatro episódios deixa muito a desejar com pequenas tramas que são desnecessárias para a continuidade do seriado e que poderiam ser resolvidas em apenas um único episódio. Claro que por se tratar de uma crítica é possível abrir uma certa liberdade de opinião. Por isso Marvel e Netflix, pensem com carinho. O modelo de Defensores (2017) acabou se provando o melhor a ser utilizado, trabalhando com menos de dez episódios e com trama mais objetiva e direta.

Com o gancho do parágrafo acima em relação ao excesso de tramas da série, é hora de falar especificamente sobre os personagens de Jessica Jones (sem spoilers, obviamente).


Nesta temporada é possível notar uma grande evolução dos personagens e do elenco da série. Desde os atores principais aos coadjuvantes, as tramas centrais e paralelas foram fechadas de maneira no mínimo satisfatória. Começando por personagens como Malcolm (Eka Darville), que surpreendentemente consegue um destaque que não era esperado na série. De um mero viciado na primeira temporada, torna-se um fiel escudeiro e auxiliar à protagonista. Porém conforme o desenvolvimento de sua trama individual vai avançando, esse espaço se torna pequeno, gerando um próprio arco de fechamento interessante, muito devido a qualidade do ator, e que leva a crer que o personagem irá aparecer nas demais série do Universo Marvel / Netflix.


Uma das personagens que serve de conexão com as demais séries do Universo Marvel / Netflix é a advogada Jeri Hogarth (Carrie-Anne Moss). Marcada por ser uma personagem de forte personalidade, poderosa e até mesmo arrogante em muitas situações, nesta temporada somos surpreendidos por um roteiro ousado em sua trama. Seu jeito de pensar o mundo e tratamento com os indivíduos que a cercam é posto a prova em virtude de uma adversidade. É surpreendente pensar que uma personagem que era odiada por fãs consiga ter ganho a simpatia e respeito na atual temporada. Trata-se da verdadeira prova que quando interpretada por uma atriz de primeiro escalão, uma personagem com história profunda tende a surpreender o telespectador.


Trish Walker é outra que ganha mais complexidade nesta temporada. Suas dificuldades de muitos anos atrás voltam à tona. Embora muitos não tenham apreciado seu arco, ela é uma personagem que precisava passar por tudo o que ocorre e tomar as decisões erradas para aprender algo com isso. Conforme a narrativa avança, a atuação de Rachael Taylor cresce de uma performance mediana para uma espetacular.

Pryce Cheng (Terry Chen) é apresentado logo de início, porém demora para ganhar uma relevância na série. Primeiramente, ele é um advogado com a intenção de se associar com Jessica. Todavia, quando ela recusa, ele se torna um rival e um possível vilão disposto a fazer tudo legal ou ilegal para acabar com a heroína. Nos primeiros episódios, suas aparições não são de grande importância, mas não se engane porque tudo pode mudar!


Quando o lançamento desta temporada estava próximo, muito se perguntava se a criadora, Melissa Rosenberg, e os roteiristas achariam um vilão a altura de Killgrave (David Tennant). Porém, essa série surpreende pela ausência de um! Muitos podem questionar, apontando um ou outro personagem (os quais devem ser mantidos em segredo porque são spoilers), mas nenhum deles se comportam ou tem características para serem chamados de “vilão”. Talvez o verdadeiro vilão da série, como afirmou Gabriel Gaspar em sua crìtica para seu canal do YouTube, “Acabou de Acabar”, seja os demônios internos de cada personagem. Todos nesta temporada estão confrontando seus problemas, seus traumas pessoais (que também não entrarão em detalhes por conter spoilers).


Finalmente chegamos ao item principal dessa crítica, que é falar da protagonista. De início cabe um elogio a performance da atriz Krysten Ritter no papel de Jessica Jones. A evolução na atuação, desde a primeira temporada da série até a participação em Defensores (2017), é visível. O jeito beberrão, ignorante e bruto da heroína permanece o mesmo. Porém, com uma maior carga dramática. Desta vez, a série adentra muito mais profundo na psicologia da personagem. É ressaltado a fragilidade e a sensação asfixiante na qual ela se encontra, apesar de não demonstrar isso para os outros. Toda Nova York sabe que um grupo de aprimorados salvou a cidade após o terremoto, portanto ela passa de uma anônima para figura quase pública de maneira instantânea. Por sempre carregar o fardo de investigadora solidária, é notável o incômodo de Jessica com o fardo de ser chamada de heroína.


Trata-se de uma temporada na qual a personagem principal vive em constante negação de rejeitar o rótulo que as pessoas dão a ela e que consequentemente gera “ciúmes” em sua irmã. Ela nunca pediu por isso, basicamente, seu maior sonho é ser uma pessoa normal. Mais uma vez cabe o elogio ao roteiro da série, já que esse sentimento de negação da heroína é posto constantemente a prova com a evolução da própria personagem da série, além da adição do personagem Oscar Arocho (J.R. Ramirez), uma pessoa também em busca do seu arco de redenção, mas que por vias totalmente opostas às de Jessica Jones.


Mesmo com os altos e baixos discutidos acima, a segunda temporada de Jessica Jones entregou um produto muito satisfatório e acima da média ao seu público. A fórmula de treze episódios adotada pela Marvel/Netflix ainda mostra-se bem pesada e cansativa aos fãs de série (principalmente os que fazem maratonas de episódios). Porém se você está esperando para ver algo no mesmo nível da primeira temporada, vá tranquilo e com sede ao pote, pois Jessica Jones é um prato cheio para os fãs de heróis, mas também para os fãs de um produto de qualidade e que soube se reinventar sem perder a sua essência.


Nota: 4,5/5





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